Segurança energética: como garantir o abastecimento de energia diante da instabilidade climática?

A transição energética é uma das maiores discussões e também um dos maiores desafios do século XXI. O mundo busca urgentemente passar por esta transição, sendo que entre as questões mais relevantes estão as melhorias ambientais. No entanto, é esperado que as mudanças trazidas dentro do contexto da transição energética resultem em efeitos positivos nas áreas econômica e social.

Na realidade, esta transição necessita ser implementada a longo prazo e ser extremamente bem planejada. Cada país tem cenários e recursos próprios, e com isso, a transição precisa ser tratada de maneira diferente em cada um deles.

Caso isso não seja levado em consideração, os efeitos positivos esperados serão opostos. Realizar medidas para uma transição sem considerar o cenário climático atual e a segurança energética da população é uma medida irresponsável e com potencial catastrófico.

Por isso, este artigo discute a segurança energética, com enfoque especial no Brasil, e como garantir o equilíbrio ambiental sem prejudicar o abastecimento de energia. Confira:

O que é segurança energética?

A disponibilidade e entrega de serviços energéticos a custos razoáveis, constante e em quantidades adequadas é referida como segurança energética. Uma matriz energética baseada em fontes renováveis é a grande meta em um planeta que busca um desenvolvimento mais sustentável e, na questão elétrica, a maior participação renovável na produção já é realidade no Brasil.

Porém, é importante ter em mente que a maioria das fontes de energia renováveis são esporádicas. A energia intermitente caracteriza um recurso energético que, para fins de conversão em energia elétrica pelo sistema de geração, não pode ser armazenado em sua forma original. Este é um dos problemas que impactam a segurança energética, uma vez que, neste caso, a geração de eletricidade não é contínua.

E, caso esta entrega não seja contínua, a segurança energética não é estabelecida. Consequentemente, a população será afetada pela ausência de energia – que pode desencadear consequências graves.

Desafios da segurança energética no Brasil

Devemos encontrar soluções para os problemas ambientais do país, como a ausência de políticas públicas e a infra-estrutura energética inadequada. A produção e transmissão centralizadas de energia, bem como a falta de eficiência energética, podem ser os maiores problemas do Brasil.

Nosso país tem escala continental, o que exige um grande cuidado para não haver grandes perdas no sistema e a geração de energia não ser isolada do consumo. O território nacional é abundante em recursos renováveis, algo extremamente positivo e que é aproveitado, visto que a maior parte de nossa matriz elétrica provém de energias verdes.

Porém, como mencionamos anteriormente, a produção de fontes renováveis pode oscilar de acordo com as condições climáticas, que são cada vez mais instáveis. Isso pode resultar na escassez desta geração e, para prevenir este cenário, é importante investir em uma estrutura com fontes variadas, incluindo fontes não renováveis.

Como exemplos de nações que estão passando por transições energéticas bem planejadas, podemos mencionar a Suécia, a Suíça e a Noruega. Estas incluem uma variedade de fontes de energia, infra estruturas sólidas e leis que promovem a utilização de energia limpa, tendo simultaneamente em conta a disponibilidade de recursos naturais.

Como garantir maior estabilidade no abastecimento de energia?

As mudanças energéticas levam décadas ou séculos, em vez de anos, para serem concluídas. Consequentemente, acelerar a mudança para fontes de energia renováveis esporádicas, sacrificando ao mesmo tempo a segurança no abastecimento de energia, resulta em grandes processos inflacionários devido ao aumento dos preços dos combustíveis e da electricidade.

Como resultado, são implementados ciclos de aperto monetário para combater a inflação, que têm um efeito prejudicial sobre a atividade econômica. A desindustrialização também é uma possibilidade. Essas situações evidenciam que, mesmo sendo importante investir em fontes renováveis, também é necessário ter uma variedade de fontes, incluindo a não renovável.

Se um sistema depender apenas das mesmas fontes de energia, como a solar e a eólica, cuja produção de energia representa 25% ou mesmo 40% da potência instalada, a eficiência cairá inevitavelmente. Quanto menos eficiente for o sistema, maiores serão os custos para o consumidor final.

Outra boa solução é a utilização de hidrelétricas com reservatórios e mecanismos de armazenamento de energia solar e eólica, como baterias específicas para isto. No entanto, ainda não há uma ampla utilização deste recurso no país, visto que os custos dessas tecnologias são altas.

A utilização estratégica de fontes não renováveis garante maior controle e tem baixo custo. Por isso, é tão importante para o abastecimento de energia. Diante das fortes ondas de calor que ocorreram no final de 2023, termelétricas foram acionadas para atender a demanda de fornecimento de energia – este é um dos grandes exemplos recentes que mostram a importância da variedade de fontes.

Isso não significa que devemos encerrar o investimento em fontes renováveis – pelo contrário, este tipo de geração energética é importante e eficiente. No entanto, precisamos ter uma variedade que inclua fontes e combustíveis que possibilitem maior controle, para garantir a segurança e a dignidade da população.

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